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Foi ontem

  • Bruno Piva
  • 24 de jun. de 2015
  • 1 min de leitura

Visitava o túmulo de sua mãe. Não sabia muito bem a sensação que aquilo lhe causava, o silêncio mortal. À sombra da lápide projetada pelo sol ardente, naquela paisagem estática e inóspita, movimentos e pequenos ruídos chamaram-lhe a atenção: existiria ali alguma forma de vida? Representada por uma barata, a vida ressurgia como oposição ao corpo inerte que jazia naquele túmulo. De onde ela viria? Mal pôde concluir seu pensamento, quando o artrópode se apressou em acusar o homem de invadir seu espaço, para lamentar-se por uma pessoa que em vida ele sequer chorou. O homem, confuso, não sabia ao certo se era incoerente responder a uma barata, nem se aquilo não passava de um fruto de sua imaginação. Insistente, o bicho questionava incessantemente se eram legítimos os motivos que levavam aquele homem a estar lá. Ao cabo daquela suposta conversa, a barata começou a apresentar indícios de que conhecia intimamente aquela mulher que morrera há anos. Mas como aquilo era possível? Curioso, o homem se aproximou do inseto e viu em seu semblante algo de humano e familiar. Perplexo, cogitou que parte do que fora sua mãe residia naquele olhar que ele nunca conheceu.

Proposta: Autorretrato em terceira pessoa - Neruda e Gregor-Kafka (metamorfose)


 
 
 

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