Azulejaria em carne viva
- Eduardo Aleixo
- 6 de mai. de 2015
- 1 min de leitura

O pai a emparedou. As suas entranhas se misturaram às da casa. O seu sangue tingiu as paredes. O pai mandou cobrir as paredes com azulejos. Ela começou a lembrar. As brincadeiras de roda. As canções que ouvia. Os livros que lia. Os sermões do padre. A lua cheia. O pôr do sol. A brisa do mar. A mãe penteando-lhe os cabelos. As lições da escola. As freiras cobrando-lhe as lições. Os sermões do padre. O único namorado. O único homem. O único Casanova. O único filho. O filho que nunca nasceu das duas entranhas. As suas entranhas se misturaram às da casa. Um azulejo trincou. Foi a lembrança.
Comments