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Dilaceleração

  • Ana Aparecida Oliveira
  • 30 de abr. de 2015
  • 1 min de leitura

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Não não não... A faca, guarde a faca, esconda a faca, o alicate de unha, as garrafas, eu posso quebrá-las. Há uma tesoura em cima da mesa. Tire tire! Eu não quero cortar você. Não quero cortar o cachorro. Meu corpo, parece que eu estou fora dele. Meu corpo parece o corpo de outro. Onde estou eu, que não dentro de mim? Eu quero dormir. Não posso dormir. Os sonhos são horrorosos. Vísceras. Castigos divinos. A culpa é daquele desgraçado. Você não tem culpa. Não tem. O cachorro não tem culpa, não. Feche a janela. Estamos no nono andar, eu quero saaaaaaaaaltar. Tum! Você ouviu? Se eu morrer você doa os meus livros para a biblioteca pública? Por favor! Banho, eu preciso de outro banho, lavar lavar, estou com frio, com calor, estou suja e com medo, muito muito medo. Vem comigo! Vem vem! Meu coração meu coração está disparando, uma dor fina atravessando o músculo, vai parar na parede. Na parede eu não tenho forma, o rejunte, as juntas rasgadas. Vermelho aberto de sangue, o intestino pulsante dilacerando as lâminas verdes. A Água. Está quente. O sangue. A toalha. Não não não...esqueça. Mais água mais água, quente quente. Fria! Fria, fria... para acalmar as veias. Mais remédio, mais mais... está começando o efeito. Ligue para o doutor Dionísio.


Peça de Adriana Varejão: Green Tilework in Live Flesch, 2000 (Azulejaria verde em carne viva, 2000) obtida nas imagens do google. Disponível em: http://goo.gl/kQ2JwC. Acesso em 25/04/2015.




 
 
 

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