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Eló e Anna Karenina de Tolstói.

  • Ian Boato
  • 11 de abr. de 2015
  • 1 min de leitura

O som da Maria fumaça me traz lembranças que não posso desenterrar. Eu perdida no meio do meio da festa com uma taça de espumante e um vestido de cetim. Aparentemente sem cor alguma no rosto. Só me lembro do rosto do Conde Vronski e mais nada. Dancei eternamente a valsa militar. Apoiada nos braços dele e reluzente como um lustre de cristal, passei eternos dias matando a vontade de ser livre.

E ser livre de mim mesma. Não sou casta ou cheia de pudores. Quem tem pudor quando se ama? Me lembrei de meu filho. Pequeno e frágil criança, desprotegida dos olhares de uma mãe rebelde. Sem causa. Sem casa. O servidor público com quem me casei me castrou com correntes de aço. Estou impossibilitada de saber quem eu sou. Nunca me cansei, mas agora estou num estado de cansaço que poderia me definir como um caramujo, com a sua responsabilidade sobre as costas e enclausurada sem saber que rumo tomar. Tomar rumo é uma bebida nova? Apesar de ansiosa e isolada, continuo mantendo as aparências de uma vida social fria e morta. Como a Rússia. Estou cada vez mais possesiva e descontrolada quanto ao amor que cultivei durante todo esse tempo. Estou mais uma vez tomando o rumo. E me vou me embriagar desta vez. Todas as famílias felizes são iguais. As infelizes o são cada um à sua maneira.


 
 
 

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